Jô Soares para Tas sobre sexualidade: ‘Somos dois viados velhos’

Frente a frente com Jô Soares para gravar a edição de abertura da nova temporada do “Provocações”, na TV Cultura, agora rebatizado como “#Provoca”, Marcelo Tas quer saber quando é que o seu entrevistado não confiou no próprio taco? “Nunca”, ele responde. “Sempre fui pretensioso”, emenda.

Não é todo dia, afinal, que se tem alguém sentado a sua frente com tanta história para contar e disposto a ser transparente. Se bem que ao fim da gravação, após submeter a Jô uma lista de seus personagens famosos e tentar saber quais deles não teriam espaço no contexto atual, Tas concluiu que Jô estava “muito bonzinho”. Para o diretor, escritor e humorista, nenhum de seus tipos deixaria de encontrar eco no mundo de hoje.

“Não seria hora de trazer o Capitão Gay de volta?”, pergunta Tas, sobre a necessidade de um super-herói homossexual nesses dias de tamanho repúdio republicano à sigla LGBT. “O Capitão Gay está aposentado”, brinca Jô.

Os dois, aliás, falam abertamente sobre as dúvidas de que são alvo, desde sempre, a respeito de suas orientações sexuais. Desde Ituverava, interior de São Paulo, sua terra natal, Tas já ouvia a gente do pedaço questionar se ele não era “viadinho”.

Da mesma forma, Jô atiçou a sanha dos curiosos sobre sua sexualidade em várias ocasiões. “Dizem assim: ‘ele namorou a Cláudia Raia’, ‘mas é viado’, rebatiam”, diverte-se o gordo, agora 80 kg mais magro.

“O fascínio sobre o rótulo é incrível”, diz Jô. “Você vai na farmácia sabendo que o genérico é igual ao outro, mas você quer o outro por causa do rótulo. O cara poder dizer que nós somos dois viados velhos lhe dá uma alegria enorme”, ri. “A mim também dá alegria”, reage Tas.

Vamos ao que interessa:

Jô comenta sobre o próximo projeto teatral, “Gaslight”, do filme homônimo com Ingrid Bergman, que se tornou uma expressão relacionada à sexualidade tóxica masculina em estudos psicológicos sobre o assunto.

Fala que tem mais um livro em mente, mas nada autobiográfico, como os dois volumes do ótimo “O Livro de Jô” (Companhia das Letras), em parceria com Matinas Suzuki Jr.

E como raras vezes diante de uma câmera, fala com detalhes sobre a convivência com o filho Ranha, que era autista e morreu aos 50 anos, em 2014.

Tas quis saber se Jô não sente falta de seu expediente na TV. Mas nem remotamente, responde o entrevistado. O apresentador acredita que saiu da programação no momento certo, de certa forma quando a TV linear entrava em um processo irreversível de decadência (de consumo, não de qualidade), em razão da expansão de outros hábitos, especialmente o streaming.

A abordagem política permeia vários momentos do programa. Tas provoca Jô sobre as ameaças de censura que têm pipocado em várias ocasiões, mas Jô diz que estamos protegidos pela Constituição. “Podem tentar, mas não há como.”

Jô se diz assustado com pessoas que admitem ter votado em Jair Bolsonaro só para fugir do PT, algo “doente”. Tão “doente” quanto o próprio PT, fala, que precisa fazer uma autocrítica para seguir em frente.Sem poupar A ou B, Jô se define como “um anarquista”.

A conversa vai ao ar em março, na TV Cultura, inaugurando cenário e a temporada 2020 do programa criado por Antonio Abujamra e repaginado por Tas.

Em horário bem mais cedo do que a faixa ocupada por Jô ao longo de seus anos de talk show, vale a pena não ir para a cama sem essa.

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